Tia Nastácia e Dona Benta

“Quase da família”

OMOWALETTU
5 min readNov 8, 2019

Muitos de nós já nos deparamos com as concessões entre pretos e brancos que não eram bem como nós esperávamos e cedo ou tarde conseguimos enxergar as contradições e prever resultados não muito favoráveis a nós saca? Nós temos visto nos últimos tempos muitas queixas sobre como o preto estar em x ou y comercial de empresa não a torna menos racista, que talvez dinheiro ou ascensão social não impeça o preto de sofrer injúria ou violências, ou que a representatividade negra na TV seja esteriotipada né? Isso se dá porque o branco não dá ponto sem nó. E não há uma única exclusiva vez em que tenhamos aberto concessões a eles que ela serviu mais a nós que a eles. E em grande parte servem beeeeeem mais a eles mesmo. Toda vez que nós nos dispusermos a jogar de acordo com as regras deles, os termos e condições deles estaremos atrás no placar. Toda vez que estivermos largando mão de nós mesmos e do que nos pertence para viver sobre a dinâmica que eles propuseram iremos padecer. Não falta precedente de derrota, até quando parecia que estávamos a frente, vishhh as regras mudaram! Agora o que nós abrimos mão para estar ao lado deles vale mais para eles do que nós. E ficamos sem alcança-los e ainda de quebra perdemos aquilo que nos pertencia. Quer ver um exemplo a pouco discutido? A Capoeira.

Para que a capoeira fosse vendida enquanto brasileira foi o Brasil quem se tornou um lugar menos racista ou a capoeira quem deixou de ser antirracista? E o samba? Qual samba que é vendido para todo o planeta mesmo? João Gilberto né? E no Hip Hop? Qual Rap que está acontecendo no mainstream das gravadoras? O que deixou de ter luta antirracista na composição, que falam exclusivamente sobre coisas ordinárias e comuns como status, drogas, dinheiro né não?

Até aqui boa parte da limitância conseguiu entender. Como as pessoas pretas podem ser usadas,e usar deliberadamente, sua produção de ideias, trabalho e comportamento para adquirir a concessão do branco e ter seu selo de “quase da família”. Quem não se lembra da Tia Nastácia? Quem não se lembra de Uncle Thom? O comportamento concessivo da pessoa preta gera a passabilidade para que ela esteja nesses locais e seja apontada pelo branco como o exemplo a ser seguido, não muito diferente de discursos meritocráticos.

“Tá vendo esse preto? Se comporte como ele e tu terás o que vestir e do que comer aqui na casa grande!” E vai lá o preto lamber a bota e puxar o saco do branco.

E aonde mais essa regra vem se aplicando? Bom, agora que você entendeu a lógica vai ter que provar que consegue aplicar a regra tanto com a laranja quanto com a maçã e deixarei os seguintes probleminhas para você resolver e chegar às conclusões que podem ser nada confortáveis , a partir daqui seguimos sem afobação , vem tranquilo!!!

Quanta energia você canalizou para estar dentro de uma universidade especializando em conteúdo e forma branca? Que conteúdo estudou, em quais métodos? Para quais empresas você conseguirá prestar serviços após sua qualificação? Tu acha que está na universidade por ser uma quebra de paradigma ou por que eles tem muito mais a ganhar com você canalizando suas energias para produzir e trabalhar para eles? O quanto do seu subjetivo você tem que adequar para poder estar entre eles? Qual linguagem você deve adotar? Você conseguirá dialogar com as pessoas que não passaram por esse processo que você passou ou você terá ambição de ir morar em um bairro “menos perigoso, com menos fofoca, violência, mais civilizado”?

E enquanto a representatividade negra dentro das limitâncias brancas? A representatividade negra no comunismo se dá pelo comunismo ter aberto voz as questões raciais ou por conta dos pretos deixarem de ser antirracista a priori? Se tirar os dados pretos de homicídio, suicídio, exploração, desigualdade social, diferença na escolaridade, cárcere, mendicância, vício e criminalidade sobra algo para algum progressista ou comunista tentar justificar sua dicotomia com o liberal ou o conservador? Não há nada que legitima eles se não a gente, então eles tem muito mais a ganhar com a gente entre eles do que liderando a nós mesmos de forma autodeterminada. Não existe essa de “o que seria da gente sem eles, sem o estado, sem a esquerda?”, o que em prática é “o que seriam deles sem a gente?” E eles estão sabendo disso e é por isso que abrem concessões. E o feminismo negro? O feminismo deixou de ser racista ou a mulher negra quem deixou de ser antirracista a priori? Como podemos qualificar poder ao homem cujo historicamente é antítese do ocidente e concentra em si as violências diretas de contensão de uma possível ressurreição? Como podemos ser comparados ao homem branco? Ou mesmo a mulher branca em termos de poder? Qual a mulher que mais estuda e que mais consome? E qual a mulher que mais foi violentada, presa e marginalizada no último século? Qual fator é determinante no resultado? Como as feministas negras conseguem chegar a conclusão que a maioria dos homens negros as preterem senão pela mesma contrapropaganda massiva de um homem negro inadequado a civilização? Como conseguem qualificar trauma ao homem preto e salvação ao homem branco? A propaganda meritocrática que acontece na academia também acontece no feminismo negro, porque homem que não se adéqua aos moldes de manutenção de energia concessiva e é repelido exatamente da mesma forma como um professor de escola ou um policial faz.

Reparou como conseguem fazer conta com laranja mas não consegue com maçã nem banana? Porque quando o preto fica rico e tira algum proveito sequer no consumo todos apontam ele com sendo contraditório as suas “origens” mas quando vocês se embranquecem nos termos citados acima vocês conseguem empregar a si mesmo a qualificação de “quase da família”,da quebra do paradigma social, os mártires do povo preto, quando a maioria está comprometendo o todo, a comunidade negra, pelos seus motivos a ambições individualistas. Pelo menos a honestidade e transparência de uma ambição positivista e utilitarista tu pode ter, caso não, não reclama da cobrança da comunidade em relação a sua displicência e hipocrisia.

--

--